quinta-feira, 12 de abril de 2012

HOMENS DO MEU TEMPO #02



Carlos Alberto de Sousa Lopes, o "Campeão", nasceu a 18 de Fevereiro de 1947, em Vildemoinhos, uma pequena aldeia próxima de Viseu.

A família Lopes era modesta. Carlos começou a trabalhar como servente de pedreiro, ainda nao tinha onze anos, para ajudar a sustentar a casa de família. Mais tarde, foi empregado de mercearia, relojoeiro e contínuo.
Enquanto adolescente, Lopes ambicionava ser jogador de futebol no Lusitano de Vildemoinhos, o clube da sua aldeia. O clube rejeitou-o por ser excessivamente magro. Como ele próprio contou mais tarde, o atletismo surgiu por acaso. Numa correria com amigos, durante a noite, ao voltar de um baile (correndo em parte para afastar o medo que o vento uivante lhes fazia), Carlos Lopes foi o primeiro, batendo um grupo de rapazes da sua idade que treinavam regularmente e já se dedicavam ao atletismo. Foi nesse grupo de adolescentes que nasceu a ideia de criar um núcleo de atletismo no Lusitano de Vildemoinhos.
O próprio Lopes referiu: "Para me inscrever, falsifiquei a assinatura do meu pai, não fosse ele achar que eu também não tinha cabedal para correr. Depois de tudo oficializado, fizemos um treino de vinte quilómetros. Uma maluquice! Depois de arrefecer fiquei como que bloqueado, mal me podia mexer. Andei três dias agarrado às paredes, sofrendo, sofrendo... Mas isso não me desmotivou...".

Em 1976, surgiu-lhe em casa um emissário do Sporting. Era o sonho à beira de se realizar.
Já em Lisboa, sofre a primeira desilusão, o prometido emprego de torneiro-mecânico, transformara-se em serralheiro numa pequena oficina. Manteve-se como serralheiro até ir para a tropa. Depois de cumprir o serviço militar, em Lisboa, despediu-se da serralharia e foi trabalhar para o "Diário Popular", como contínuo. Pouco depois passou para empregado bancário no Crédito Predial e depois trabalharia no Banco Português do Atlântico.
É no Sporting Clube de Portugal que encontra o treinador da sua vida, Mário Moniz Pereira.

A primeira prova oficial de Lopes foi numa corrida de São Silvestre, tinha dezasseis anos. Ficou em segundo lugar, pese embora a presença de corredores bem mais experientes. Pouco tempo depois, ganhou o campeonato distrital de Viseu de corta-mato e quase de seguida, foi terceiro no campeonato nacional de corta-mato de juniores. Essa classificação, levou-o pela primeira vez ao Cross das Nações, em Rabat, Marrocos. Carlos Lopes foi o melhor português, em 25º lugar. Tinha então dezassete anos.

Foi o vencedor da Medalha Olímpica Nobre Guedes, em 1973.

Em 1975, Carlos Lopes e outros atletas do Sporting passam a treinar duas vezes por dia. Lopes era dispensado do seu emprego na parte da manhã. Entrava-se assim, na era do semi-profissionalismo.

Em 1976, ganha pela primeira vez o Campeonato do Mundo de Corta-Mato, que nesse ano se realizou em Chepstown, no País de Gales. Como mais tarde viria a demonstrar, fez uma corrida em que evidenciou uma enorme auto-confiança, mostrando resistência, sentido táctico e muito boa ponta final (sprint).

Carlos Lopes, que já tinha estado sem glória nos Jogos Olimpicos de Munique'72, era uma das maiores esperanças lusas para Montreal'76, onde teve, aliás, a honra de ser o porta bandeira da equipa lusitana durante a cerimónia inaugural.
Na final dos 10.000 metros dos Jogos, Lopes forçou o andamento desde o início, seguindo as instruções de Moniz Pereira, pois a táctica era rebentar com a concorrência (ou com ele próprio). De facto, iniciou o último meio quilómetro bem adiantado do pelotão. Mas não ia só. Lasse Viren, da Finlândia, tinha sido o único a conseguir acompanhar Lopes. Nas últimas centenas de metros, Viren atacou forte, ultrapassou Lopes e ganhou a medalha de ouro. Lopes foi segundo e teve de se contentar com a prata. O finlandês era um atleta e excepção e, ganhou também o ouro nos 5 000 metros.
Era a primeira vez, em décadas, que Portugal conquistava uma medalha olímpica, e a primeira no atletismo.

Em 12 de Agosto de 1984, Carlos Lopes vence a prova da maratona nos Jogos Olimpícos de Atlanta 1984 (que madrugada memorável !!!), tornando-se o primeiro português a ser medalhado com o ouro Olímpico. A prova foi rápida e a marca atingida (2h09m21s) manteve-se como recorde olímpico até Pequim 2008.

Carlos Lopes foi:

9 vezes Campeão Nacional de pista (5.000, 10.000, 3.000 obst, 4x1.500);
3 vezes Vencedor da Taça Dos Clubes Campeões Europeus de Corta-Mato;
3 vezes medalhado de prata nos Europeus (Atenas'69, Roma'74 e Atenas'82);
10 vezes Campeão de Portugal de Corta-Mato (entre 1970 e 1984);
3 vezes Campeão do Mundo de Corta-Mato ('76, '84, '85);
2 vezes Vice Campeão do Mundo de Corta-Mato ('77 e '83);
3 vezes atleta olímpico (Munique'72, Montreal'76 e Los Angeles'84);
1 Medalha de Prata nos 10.000 metros em Montreal '76;
Recordista Europeu dos 10.000 m em 1982, com a marca de 27'24''39;
Medalha de Ouro na Maratona Olimpica em Los Angeles 1984;
Vencedor da Maratona de Roterdão em 1985, efectuando a melhor marca do Mundo com 2h07m12s
Vencedor de inúmeras provas em pista, corta-mato e estrada.

Actualmente, Carlos Lopes é embaixador da Federação Internacional de Atletismo, da Federação Portuguesa de Atletismo, dá o seu contributo a inúmeras causas solidárias e patrocina variados eventos desportivos, com a humildade que sempre o caracterizou.


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